A candidatura de José Couceiro, consubstanciada na letra C, foi assumida um dia antes do prazo para entrega de listas. Esta candidatura apresenta listas para o Conselho Directivo, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal e Disciplinar, não apresentando lista para o Conselho Leonino.
José Couceiro já passou pelo Sporting e pelo futebol português em diversas fases e papéis. Depois de uma carreira fugaz como jogador de futebol, Couceiro foi presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, director desportivo do Sporting pela mão de José Roquette, administrador e posteriormente treinador do Alverca pela mão de Luis Filipe Vieira, e presidente do comité de investimentos do primeiro fundo português de investimento em passes de jogadores, constiuído pelo grupo Orey.
Em relação à função no fundo de investimento, foi responsável pelo benefício dos seus subscritores com a aquisição a baixo custo de percentagens de passes de jogadores da formação do Sporting como Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma e Hugo Viana. Como exemplo mais significativo, este fundo terá adquirido em 2002 35% do passe de Cristiano Ronaldo (à data com 17 anos) com base numa avaliação de 1,8 milhões de euros. No espaço de um ano, Ronaldo foi transferido para o Manchester United por 15 milhões, valorizando a participação do fundo em mais de 800%. O clube que o formou encaixou cerca de 9 milhões. O fundo, que conseguiu convencer o clube de que o jogador não valeria lá muito, encaixou mais de 5 milhões.
Depois do colapso do Alverca, Couceiro continua a sua carreira de treinador destacando-se a passagem em equipas como o Vitória de Setúbal, Porto, Belenenses e Gaziantepspor. Em 2010 volta a entrar no futebol do Sporting, desta vez como director geral, ficando entre Costinha e José Eduardo Bettencourt. Pouco tempo depois, estes e Paulo Sérgio saem de cena, ficando Couceiro responsável pela gestão e treino da equipa principal do Sporting. Com a entrada dos novos órgãos sociais em 2011, Couceiro é posto de parte pela tão competente e profissional estrutura de gestão implementada por Godinho Lopes e vai treinar o Lokomotiv de Moscovo, tendo sido dispensado no final da temporada por não ter atingido os objectivos definidos, onde se destacava o apuramento para uma competição europeia.
Não se pode dizer que a experiência acumulada no mundo do futebol não seja uma mais-valia. No entanto, seria bastante mais relevante se tivesse sido marcada por maiores sucessos, mesmo que relativos. Na sua carreira desportiva, destacam-se apenas a obtenção do terceiro lugar pelo Sporting em 2010/2011 e as subidas de divisão pelo Alverca. Algo curto para ser usado como passado de sucesso em campanha.
Apesar de ter sido o último candidato a avançar oficialmente, José Couceiro fez parte da paisagem mediática de preparação de eleições desde que elas foram convocadas. Ora surgiu apenas como comentador sem interesse em avançar para a presidência, ora ensaiou aproximações às diferentes correntes de influência no clube. Defendendo o seu interesse em participar na solução dos problemas do Sporting, acaba por se disponibilizar para integrar uma candidatura, desde que houvesse garantia de condições económicas e equipa constituída para avançar.
Esta tomada de posição e disponibilidade acontece numa altura em que Godinho Lopes admite ainda a recandidatura no caso de não se perfilarem opções que ele identifique como suficientemente credíveis. Simultaneamente surjem notícias de diversas sondagens a figuras mediáticas do universo político, económico e desportivo do país e do clube: Jorge Coelho, Luís Figo, Rogério Alves e até Rui Oliveira e Costa são sondados para avançar. Nesta fase, são inclusivamente lançadas notícias menos abonatórias sobre Couceiro no Record, ainda com a decisão do Godinho Lopes por tomar.
Enquanto a linha institucional do Sporting tarda em definir o seu candidato, surge a candidatura de Paiva dos Santos, através de alguma capacidade mediática e da exposição irregular de tarjas no Estádio José Alvalade durante um jogo. Esta candidatura, consolidada em apoiantes e membros da candidatura de Pedro Baltazar em 2011, afirma que quer seguir até às urnas a não ser que Couceiro se candidate.
Simultaneamente com estas movimentações e num dos seus momentos mais polémicos, Dias Ferreira aponta José Maria Ricciardi (presidente do BES Investimento, membro do Conselho de Administração do BES e vice-presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar) e Sikander Abdul Sattar (responsável da auditora e vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar) como principais responsáveis pelo condicionamento de candidaturas à presidência do Sporting e à gestão do clube e SAD. Não é claro se esta delação resulta da pureza de consciência sportinguista ou, pelo contrário, como consequência de (mais) uma nega de apoio para avançar à Presidência. No entanto, estas acusações permitem ajudar a compreender melhor o que rodeia e como funciona a negociação de poderes no universo Sporting.
Com a negação pública de avanço por parte de Luís Figo e com a aproximação do fim de prazo para constituição e entrega das listas, Couceiro decide avançar. A este avanço, Godinho Lopes responde com a sua não recandidatura. Couceiro obtém o acompanhamento da sua candidatura pela Cunha Vaz & Associados, a mesma empresa de comunicação que assessorou Godinho Lopes até ao momento em que a Federação Portuguesa de Futebol precisou dos seus serviços. António Cunha Vaz, pessoa com opiniões muito próprias acerca de quem pode ou não pode dirigir o Sporting e com relevante experiência profissional adquirida especialmente na assessoria de comunicação a bancos, partidos e candidaturas políticas e desportivas, consolidou a sua ascensão profissional no universo Millenium BCP, o outro principal credor do Sporting.
Com o avanço da candidatura de Couceiro cai, tal como anunciado, a candidatura de Paiva dos Santos, com a particularidade de cair para todos os órgãos a que a candidatura de Couceiro se propõe (todos excepto o Conselho Leonino). Na sobrevivente lista de Paiva dos Santos ao Conselho Leonino são integrados nomes como Rui Oliveira e Costa e Vasco Lourenço. Ou seriam, não tivesse o mandatário da lista tido problemas no dia de entrega da documentação, chegando atrasado e já fora do período de aceitação de candidaturas.
Couceiro define-se como um candidato pela verdade e pela gestão rigorosa, por oposição à gestão desregrada dos últimos anos, em que curiosamente tomou parte. Como esquecer a venda de Liedson, a contratação de Cristiano e a incapacidade em encontrar soluções para ponta-de-lança, problema já crónico na SAD sportinguista?
Apesar de defender a responsabilização dos elementos directivos pela gestão que conduziram, é o candidato menos veemente na defesa dos interesses do clube face a actuação das gestões anteriores. Compreende-se; sendo defensável que Couceiro seja ponderado e que considere todas as soluções, não se pode comprometer com algo que hostilizaria as suas bases de apoio.
Couceiro difícilmente poderia definir-se como independente dos apoios que recebeu, depois de estes terem sido negociados de forma tão exposta. Até Carlos Barbosa, homem ligado ao Grupo Cofina que inicialmente reagiu contra a hipótese Couceiro quando ainda não tinha o selo da credibilidade, já veio repetir o seu insulto tradicional contra quem ousar reconhecer padrões nestas movimentações. Passando de burro a estúpido, Carlos Barbosa funciona como um indicador de alinhamento.
Quer queira quer não queira, quer tenha aceite ou não qualquer grau de ingerência ou influência na sua candidatura, Couceiro é neste momento o candidato do dito Sporting institucional. Não podendo ser, por princípio, uma cruz para Couceiro os apoios que recolhe, a idonedade e independência da sua candidatura deve ser pelo menos questionada quando, por exemplo, não aconteceu uma única iniciativa pública de recolha de candidaturas. Eu pelo menos não tive conhecimento de nenhuma.
Da mesma forma, a maior ou pior qualidade da sua campanha ou das suas opções de comunicação, mesmo que discutíveis, não podem substituir a análise do essencial. Sim, é claramente estudada a revisão que fez ao nome com que se apresenta aos associados, fazendo uma colagem eleitoralista à memória do seu tio-avô de forma a influenciar o subconsciente dos sócios menos informados ou com menor interesse em se informarem a fundo, mas não pode ser isso a contribuir para a sua maior ou menor apetência para o cargo de Presidente do Sporting Clube de Portugal.
Apesar do historial relevante no mundo do futebol português, com passagens pelo serviço a Roquette, Vieira, Orey, Pinto da Costa e Bettencourt, José Couceiro deve ser avaliado pelo que for efectivamente capaz de representar como presidente do Sporting Clube de Portugal: se o topo de uma liderança clara, forte e decisiva, se um homem de mão permeável e beneficiário de jogadas de poder e influência. Na minha opinião, parte com prognóstico muito reservado.