Carvalho

Bruno de Carvalho

Bruno de Carvalho, que apresenta as listas B com o lema Sporting no coração, confiança do futuro, surge nestas eleições como o candidato derrotado de 2011, tendo sido um dos contribuintes monetários mais significativos para a concretização da AGE requerida pelos sócios. Bruno de Carvalho foi também, nos últimos dois anos, o sócio individualmente mais activo nos aspectos associativos do Clube. As participações em Assembleias Gerais e contribuições para a revisão e aprovação dos estatutos demonstraram inequivocamente um nível de interesse inigualado por qualquer outro presente candidato ou ex-dirigente neste período.

Do historial de Bruno de Carvalho, já aprofundadamente investigado e explorado, consta a actividade profissional como gestor de empresas, particularmente no ramo da construção civil, com forte componente internacional com a Rússia. Apesar de ter sido sujeito desde a campanha anterior a um maior escrutínio que aquele aplicado a arguidos e condenados também candidatos, as acusações mais graves a que pode ser comprovadamente sujeito são as de não ter conseguido manter o interesse de um grupo de investimento imobiliário russo que, por via da excessiva burocratização, acabou por recuar no seu projecto para implantar um palácio do gelo em Lisboa.

Apesar de ser tratado mediaticamente como um arrivista ao Sporting, tem um historial associativo incomum. Para além de ter sido patrocinador e dirigente da secção autónoma de hóquei em patins (tendo chegado a vice-presidente), é também patrono de uma bolsa de estudo atribuída pelos Leões de Portugal. A esta vivências directas no universo Sporting, soma a presidência da Fundação Aragão Pinto, responsável pela integração social de jovens através do desporto, e a coordenação da pós-graduação em gestão desportiva do ISG.

Como candidato à presidência do clube, Bruno de Carvalho tem algumas particularidades únicas, que fazem dele tanto desejado por grande parte dos sportinguistas como olhado com desconfiança por outra parte. O estilo irónico, arrogante e feroz que adopta na comunicação pública e social contrasta com o típico estilo formal e bem falante praticado pelas últimas gerações de dirigentes do Sporting. Apesar deste estilo não ser o mais polido para conquistas eleitoralistas, parece-me fazer falta ao clube alguém que tenha a capacidade de defender aguerridamente os interesses e imagem do Sporting num contexto mediático e institucional que beneficia com a fraqueza do clube.

Não sendo um estilo popular e apesar de a sua candidatura em 2011 ter surgido correndo por fora, foi capaz de ganhar a confiança da maioria dos sócios votantes sem conseguir ultrapassar o número de votos conquistados por Godinho Lopes. Bruno de Carvalho terá conseguido esse apoio através do seu estilo contrastante e, acima de tudo, pela sua mensagem de forte ruptura com a gestão desportiva e financeira levada a cabo até então (e deste então também), granjeando o apoio dos sócios insatisfeitos que foram sobrevivendo às sucessivas descaracterizações dos aspectos associativos e patrimoniais do clube e  às sucessivas perdas de competitividade desportiva e financeira.

O processo de requesição e convocação da AGE sujeitou os membros da Mesa da Assembleia em funções a grande desgaste mediático. Na minha opinião de forma desporporcionada, uma vez que se limitaram em grande parte a fazer cumprir as disposições estatutárias, com a excepção de Eduardo Barroso, devido à sua voluntária e excessiva exposição mediática. Assim, foi necessário procurar uma lista alternativa para a MAG, até para evitar a mais que errada conotação de golpe de estado que se tentou dar à iniciativa de sócios tendo em vista o fecho de um ciclo. Para preencher a lista da MAG que agora se candidata, Bruno de Carvalho parece ter recorrido a círculos partidários o que, a ter sido o principal critério aplicado, não deixa de ser censurável.

Relativamente às linhas programáticas que o distinguem dos restantes, Bruno de Carvalho defende explicitamente a manutenção da maioria do capital da SAD no clube, restando saber como o pretende conseguir. Por outro lado, e em resultado da sua negação da herança de influência na gestão por parte dos bancos de que o clube e SAD dependem, esta lista defende também explicitamente a promoção de uma auditoria de gestão, tendo em vista a identificação e responsabilização de quaisquer responsável por actos de má gestão e gestão danosa. A sua lista, em particular na estrutura prevista para o futebol e finanças, mantém-se em relação às eleições anteriores, demonstrando crença nas suas próprias opções apesar da necessidade de granjear uma base de apoio mais alargada. Algo que deveria ter aplicado (ou pelo menos ponderado) em relação ao pelouro das modalidades, onde o recrutamento de Vicente Moura parece ser uma tentativa de apelar ao voto mais conservador, a somar à sua polémica experiência de gestão no ecleticismo.

A estratégia mediática levada a cabo até ao momento, embora foque elementos importantes como a legitimidade e o processo menos claro de definição de listas e compromissos de poder, parece ter um efeito algo redundante. Com as opções tomadas até ao momento, Bruno de Carvalho apenas reforça o apoio dos seus votantes por posição ou insatisfação, não disputando o restante eleitorado. Para expandir a sua base de apoio de forma a assegurar a vitória, Bruno de Carvalho terá que virar as suas intervenções para aquilo que pode fazer melhor que os seus concorrentes: liderar. Não se trata de amaciar a forma, mas de repensar o conteúdo. Os sócios indecisos não estão provavelmente interessados em saber quem sujou mais as mãos para conseguir avançar para eleições, embora devessem. Os sócios indecisos querem comparar as soluções e saídas para a situação em que o clube se encontra, e a capacidade de quem as propõe.

Verdade seja dita que parte significativa da campanha de Bruno de Carvalho, centrada no contacto directo com os sócios através de sessões de esclarecimentos e reuniões em núcleos, visa isso mesmo: dar a conhecer as suas propostas aos sócios. Mas não se pode esquecer que muito do resultado das eleições se joga no plano mediático. Sendo um plano por natureza inclinado (por exemplo, quer o grupo Cofina quer o grupo RTP têm já os papeis a desempenhar claamente atribuídos aos candidatos), é nesse espaço que Bruno de Carvalho tem de mostrar o seu interesse em resolver os problemas do Sporting. Por muito que haja listas nascidas tortas e esqueletos no armário para exumar.

Sendo assim, não é em António Cunha Vaz que Bruno de Carvalho deve concentrar os seus esforços, como se viu no diálogo de comunicados de ontem. É nos sócios que falta convencer. Não com estéreis e artificiais bandeiras de união e equilíbrio institucional, como tem sido costume nas candidaturas alinhadas com a continuidade, mas com acções positivas sobre a precepção que os sócios têm de si próprio e com propostas concretas que permitam ultrapassar a curtina de fumo mediática que o rodeia. Para que possa vencer e mostrar se é efectivamente capaz de levar a cabo a regeneração do clube.

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Sportinguista reflexivo.

Posted on 28 Fevereiro, 2013, in Eleições 2013, Reflexivo, Sporting. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.

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